sexta-feira, 12 de abril de 2024

Almério - Nesse exato momento


Eu me lembro nitidamente quando foi a primeira vez que vi e ouvi o pernambucano Almério.
 O edital da Casa Natura Musical, para o ano de 2016 foi o primeiro (e acho que o único) a permitir uma votação popular onde alguns artistas eram apresentados ao público, por meio de de um video clipe, uma pequena bio e a gente podia escolher nosso preferido e votar. Eu assisti aos artistas sugeridos e quando vi o trabalho de Almério, tinha certeza que ele seria o artista em quem eu votaria. Fiquei muito entusiasmada quando vi que ele tinha sido o vencedor e, graças a isso. o CD Desempena foi gravado.
Em 2017 eu já tive a chance de assistir ao primeiro show de Almério e fiquei impressionada com a sonoridade, aqueles pífanos maravilhosos, a percussão, e, lógico, a performance do artista. Um figurino lindo, uma presença de palco espetacular e naquele momento ele me conquistou.
Essa, acima, é a primeira foto de Almério que tirei. Muitas vieram em seguida. Assisti a vários shows do Desempena, participação de Almério em Virada Cultural e o trabalho que ele fez em seguida, o disco Acaso Casa, com Marienne de Castro tinha tudo para render uma bela temporada de shows, mas aí nós vivemos a pior tragédia mundial dos tempos modernos, a pandemia, que nos prendeu em casa e limitou, absurdamente, o trabalho cultural.

A foto acima é do show Desempena. Almério e na guitarra Juliano Holanda

A solução perfeita que se desenvolveu no período mais difícil para a cultura foi fazer lives e, felizmente Almério também fazia as suas e eu lá, sempre acompanhando e curtindo o trabalho dele.

Em uma live que Almério estava super descontraído e brincando muito. Eu curti demais.

Ainda durante a pandemia, em 2021, Almério recebeu um convite para gravar um disco em homenagem a Cazuza e nasceu o projeto Tudo é amor. Naquele momento já era possível se fazer shows e lá estava eu, mais uma vez, conferindo o novo trabalho. O artista deu sua versão bem pessoal às canções de Cazuza e o resultado foi mais um belo trabalho visual e artístico impecável.

O projeto que viria a seguir, e que ainda está rodando o país e, em breve, vai para o exterior é o da vitoriosa tour com Martins, seu conterrâneo. O disco Almério e Martins ao vivo é um show muito especial que destaca o talento individual dos artistas, mas ressalta também a riqueza da união de dois grandes cantores e compositores. Eu assisti a várias edições do show, tanto em SP como no Rio de Janeiro e também em Recife.

Hoje, 12 de abril de 2024 Almério lançou seu novo trabalho, com canções inéditas que se chama Nesse exato momento. Eu considero esse disco o momento mais sublime e maduro da carreira dele. Não que ele tenha chegado ao auge, ainda tem muita coisa para mostrar e criar, mas o que se percebe neste disco é um artista que sabe o que quer, aonde pretende chegar e que se cerca dos melhores profissionais, músicos e técnicos.
Nesse exato momento tem participações pra lá de especiais como Maria Bethânia - a maior cantora do país - na faixa Quero você, que também entrou em trilha de novela e outros grandes pares do artista como Zé Manoel, Zélia Duncan, Mariana Aydar, Juliana Linhares, Chico Chico e o mestre/mago Juliano Holanda que divide os vocais com Almério na canção que fecha o disco.

Nesse exato momento é delicioso de se ouvir. O trabalho abre com as bençãos de Exu e em seguida passeia por amores não correspondidos e outros plenos com direito a suspiros e beijos maravilhosos. Um disco atual, com uma sonoridade contagiante e a voz especial de Almério. Sou muito fã e gostei demais do disco inteiro. Agora é aguardar a estreia do show, em maio, no Recife e torcer para que ele venha logo para outras cidades para que mais e mais pessoas possam curtir esse momento tão especial  desse grande artista que me encantou desde o primeiro momento e, mais ainda, quando soube de sua história de vida e luta por sua carreira.

Que bom que Almério chegou até nós Nesse exato momento e com toda certeza, quem é de amor há de vencer. Ele já venceu.

Fotos de Klaudia Alvarez




 


 

domingo, 27 de agosto de 2023

Kleber Albuquerque - Anzol


Kleber Albuquerque é cantor, compositor e instrumentista natural de Santo André, SP, mas na verdade é cidadão do mundo.

Desde o final dos nos 90, quando lançou seu primeiro CD, Kleber vem construíndo uma carreira artística sólida e com muita personalidade.  Influenciado pela literatura suas canções são pra lá de especiais e já foram gravadas por grandes nomes da MPB.

Outra característica de Kleber Albuquerque é seu espírito agregador. Quando morava em São Paulo, Kleber promovia - no quintal de sua casa - um sarau onde convidava outros artistas para se apresentarem. Era uma troca informal e sempre bem-vinda porque novas parcerias acabavam se formando. Atualmente morando em Salvador, Kleber voltou a realizar esses encontros artísticos tão necessários.

Lançado nessa sexta-feira, 25/8/23 o mais recente trabalho de Kleber Albuquerque se chama ANZOL e é um disco com oito canções onde predominam os ritmos nordestinos, provando  que não é preciso ter nascido no Nordeste pra se fazer um ótimo forró ou um xote delicioso.  

Uma parceria que Kleber tem consolidado nos últimos tempos é com o pernambucano Juliano Holanda, outro grande artista também agregador e que está presente no Anzol.

Kleber e Juliano já tem várias canções juntos e alguns singles já foram lançados, um deles contando também com a participação de Joana Terra, artista baiana com forte ligação com a música pernambucana.

Anzol pode e deve entrar em qualquer playlist voltada para a música nordestina, em especial as das festas juninas porque traz canções deliciosas e confirma o nome de Kleber Albuquerque como um grande e versátil artista da nossa música.


terça-feira, 6 de junho de 2023

Coral no Itaú Cultural - 4/6/2023

Existem palcos e Palcos, mas, com certeza, a Sala do Itaú Cultural, na Av. Paulista, está na categoria dos palcos com letra maiúscula. Proporcionando uma estrutura perfeita para os artistas que lá se apresentam, a Sala já se consolidou como uma das grandes vitrines da arte em São Paulo. 

A curadoria atual, sob o comando de Galiana Brasil, está promovendo uma programação que contempla a diversidade
mostrando a riqueza da cultura brasileira em toda a sua complexidade e beleza. A mostra Todos os gêneros, que apresentou vários espetáculos focalizando as drag-queens do país, a cultura ballroom, entre outros temas, se encerrou no último domingo cm um show impecável da cantora, poeta, compositora e instrumentista baiana CORAL. 

Acompanhada de Pedro Fonseca (guitarra e direção musical) e Yuri Vellasco (bateria) Coral apresentou canções que fazem parte dos dois EPs já lançados por ela, assim como canções de seu repertório e ainda inéditas.  Compositora de verve poética, com uma presença de palco arrebatadora e com um timbre lindo, Coral brindou a plateia, que lotou a sala, com 15 canções.

O show contou também com projeções feitas por Raquel Diógenes (@desenharaquel) em tubos espalhados pelo palco que mostravam cenas da carreira de Coral, assim como momentos pessoais da artista e outras cenas que tinham a ver com as canções. Um must que só enriqueceu o espetáculo tão bem feito e planejado.

Sem dúvida alguma, Coral é das grandes revelações recentes da MPB e merece um lugar de destaque na nossa música porque suas composições são extremamente bem feitas e cheias de poesia, sem no entretando, deixar de falar da realidade dura que atinge o público LGBTQIAPN+, seu lugar de fala.

Lista das canções apresentadas por Coral na Sala Itaú Cultural

Recomendo demais que todes sigam a carreira de Coral (@aocoral em todas as redes sociais e nas plataformas de música)
porque se trata de uma artista que tem muito a contribuir para a cultura e a boa música brasileira contemporânea.

Da mesma forma, sugiro que fiquem atentos à programação do Itaú Cultural, que nesta semana traz quatro shows, cada dia com convidados diferentes, da paraibana Cátia de França, um ícone da música nordestina.

Vida longa ao Itaú Cultural e por uma programação cada vez mais diversa e plural. A cultura agradece.
Coral clicada no show por @alexandrecalladinnifoto

 


terça-feira, 4 de abril de 2023

Projeto Tranquilo Bh e SP


 É com este slogan - Ouvidos atentos, corações abertos - que o músico mineiro Thales apresenta seu projeto Tranquilobh e, agora também, TranquiloSP para o mundo. Criado há bem pouco tempo, de forma despretensiosa, mas com um objetivo firme, no quintal da casa onde ele morava, em Belo Horizonte, MG, a ideia do projeto era abrir espaço para que ele próprio e amigos músicos pudessem apresentar suas canções.  Como é bem sabido, o músico independente, e ainda não tão conhecido, tem muitas dificuldades para divulgar seu trabalho e a cena das casas noturnas não é nada amigável para esse tipo de artista.

Com um público a princípio pequeno e que foi crescendo aos poucos, os encontros musicais na casa de Thales ficaram conhecidos pelo boca-a-boca e logo a vizinhança começou a não curtir aquela movimentação toda. E, de forma natural, novos espaços foram procurados para que a cantoria fluísse tranquila e sem incomodar ninguém.

E, em quê o Tranquilo se difere de outros projetos musicais? Em muitos aspectos. O primeiro deles é que o lugar onde o evento vai rolar é secreto. O público só sabe na véspera e apenas se interagir nas redes sociais deles. Os artistas que vão se apresentar também só são revelados no dia. Se paga um ingressos fixo para entrar? Não! Há um valor mínimo sugerido como contribuição para os artistas, e o público paga esse valor ou maior, se puder. Tem bebidas e comidinhas? Sim! E com o outro diferencial que o Tranquilo inaugurou: a confiança nas pessoas. Não tem vendedores te cobrando antes. Você pega o que vai consumir e paga através do pix que está disponibilizado onde você retira a mercadoria. É toda uma filosofia de vida e comportamento que aposta no bom caráter de quem gosta de música boa e frequenta o espaço. Corações abertos e honestos. Essa é a ideia.

Outro grande diferencial do Tranquilo é o silêncio pedido, e normalmente atendido, durante as apresentações. Em formato acústico, o que se deseja é que todos ouçam as letras. Prestem atenção no trabalho do artista. Nada daquele clima de bar em que as pessoas falam alto, riem e o pobre do artista canta pra ninguém. Música de fundo, só pra dizer que tem não é a vibe do Tranquilo. Como seu criador também define é um rolé(com acento agudo em Bh) ou rolê (com acento circunflexo em SP) de descobertas. O público vai para conhecer novos trabalhos. Normalmente são três artistas por edição. E, claro, com o crescimento do projeto, artistas mais conhecidos estão aderindo e alguns bem famosos já se apresentaram no Tranquilo.

Outro detalhe que torna o Tranquilo único é o encerramento da noite. Ela sempre se fecha com o "Olho no olho". Algum artista presente na plateia que queira se apresentar, é bem-vinde e dedica sua canção para alguém presente, que fica sentade em frente ao artista, enquanto ele canta. Pertinho, olho no olho. Incrível, né?

Tenho certeza que depois de tudo isso que relatei aqui, a curiosidade bateu. Tá interessade em ver isso de perto? Então, separe sua canga, almofada ou sente no chão mesmo e se programe. O TranquiloSP acontece em algum espaço da cidade, às segundas feiras, a partir das 19h e, em Belo Horizonte, às terças feiras, mesmo horário. Pra saber onde e quem vai se apresentar, tem que seguir @tranquilobh e @tranquilosaopaulo.

Sejam todes (os de bom caráter, por favor) bem-vindes a esse inovador jeito de promover a música independente no Brasil. Vida longa e muito sucesso ao Tranquilo. Que em breve a sigla de outros estados seja acrescentada. Quem ama a música brasileira de verdade agradece.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Um Par Ímpar - Zélia Duncan & Moska

 


O dia 8/1/23 vai ficar na história do país como o dia em que as trevas tentaram destruir a nossa democracia, o que felizmente não conseguiram, graças à luz imensa e à sabedoria do gigante que temos na presidência, mas também vai ser lembrado por mim como o dia em que assisti meu primeiro show do ano e que foi inesquecível.

Zélia Duncan e Paulinho Moska se uniram pra celebrar uma amizade e parceria de 25 anos em um show antológico. Com o nome incrível de UM PAR ÍMPAR, título também da canção que abre o show, eles convidaram o cantor, compositor e instrumentista uruguaio, radicado no Brasil, Miguel Bestard para compor o ímpar no palco. O resultado não podia ser melhor. O artista, que já tem trabalhos solos em sua carreira, completa, de forma mágica, o trio que deixa o público eletrizado e encantado com a interação e cumplicidade amorosa que reina durante o show.

O set list de 23 canções contou com inéditas e com sucessos tanto de Zélia quanto de Moska. Foi emocionante ouvir sucessos de cada um dos artistas cantados pelo outro e em dupla. 


A direção musical do show é de Rodrigo Suricato, cenário de Antonio Bokel, iluminação de Christiano Desideri e figurino de João Pimenta.

Enquanto o Brasil vivia sua maior ameaça à democracia em décadas, e um verdadeiro terrorismo fantasiado de verde e amarelo tomava conta da capital, nós que estávamos ali dentro do Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, testemunhávamos o que nosso país tem de melhor: a cultura e a música brasileira  representada por dois dos maiores artistas de sua geração. Era um outro mundo paralelo. O que vivemos ali, naquela plateia e no palco é a nossa verdadeira essência como povo. Empatia, amor, interação e cuidado um com o outro. 

Tenho certeza que este show tão especial tornou o dia de ontem, que foi tão difícil pra todos nós que somos a favor da vida e da liberdade um pouco mais leve.

Quando este show passar por sua cidade recomendo que não perca. É um alento pra alma. Um  verdadeiro bálsamo, uma celebração de amizade e uma comunhão de talentos incríveis. Que bom que tive a sorte de estar lá.



terça-feira, 29 de novembro de 2022

Beth Amin

"Eu, você e Gil” foi composta num dia de pandemia, numa das minhas caminhadas diárias ouvindo “Parabolicamará”. Comecei a cantarolar “eu vou (ouvindo Gil), com você (cantando Gil)...”. Na hora veio também o walking bass, no andamento dos meus passos. Chegando em casa, corri pro computador e completei o recheio harmônico com uma levada de reggae. Na hora já sabia que gravaria no ano seguinte, ano do aniversário de 80 anos do Gil. Levei ao músico e produtor Zé Nigro e juntos gravamos e finalizamos esse presente para o mestre. Minha primeira memória vívida com a música do Gil foi com “Aquele abraço”. Essa canção alegrou minha vida por muitos anos. Eu, sem entender o clima pesado do país, ouvia aqueles abraços todos e me aconchegava neles. Depois, todos os seus álbuns fizeram a trilha sonora da minha vida (e da minha geração), até que no início dos anos 90, tive a oportunidade de fazer backing vocals num grande show que reuniu Gil, a sinfônica de Campinas, o grupo Vai quem Vem, grupo de jovens percussionistas liderados por Carlinhos e o grupo Beijo do Coralusp, onde eu cantava. Nos ensaios com ele, conhecemos a serenidade de alguém cheio de sabedoria de vida, alguém com um perfeito equilíbrio yin/ yang. “Eu você e Gil” é uma homenagem ao mestre, a quem agradeço com carinho, pois ouvindo Gil, passei pelos percalços da vida com o calor dos seus abraços sonoros". Beth Amin “Eu, você e Gil” foi composta por Beth Amin, que faz todas as vozes e assina os arranjos. Zé Nigro, conhecido por trabalhos com com Fernando Catatau, Bárbara Eugênia, Curumim entre outros, produziu e toca contrabaixo e rhodes. O single vem acompanhado de um lyric video é um lançamento da gravadora YB. Sobre Beth Amin Beth Amin é cantora, compositora e fonoaudióloga. É também preparadora vocal do Teatro Oficina e do CORALUSP de onde é vice-diretora. Musicista formada pela Berklee College of Music, tem 3 CDs e vários singles autorais lançados. Ela já levou sua música para a Colômbia, Alemanha, Canada e Estados Unidos. O saudoso Zuza Homem de Mello citava Beth (entre outros) como “uma artista que honra a tradição da música brasileira”.