quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CAIO PRADO - Entrevista "Não Recomendada" !



CAIO PRADO, um dos maiores talentos da nova safra de artistas da MPB conversou com a gente e aqui vai o papo com esse artista incrível!


1- Começando pelo óbvio.  O início.  Como foi que você descobriu a voz fantástica que tem e quando decidiu que queria seguir a vida artística?


Minha mãe sempre teve um gosto musical amplo, mas o que mais ouvia era música popular brasileira. Desde as canções dramáticas da Nana Caymmi, passando por Milton Nascimento, Djavan, Rita Lee... Cresci num ambiente onde a música é fundamental. Uma das minhas brincadeiras favoritas era imitar os artistas dos cds e discos da estante de casa, improvisando um show como o "Criança Esperança". (rs)

Nos trabalhos escolares mais criativos eu sempre recorria à alguma apresentação que tivesse música, poesia, teatro. As pessoas ao meu lado
viam que eu tinha uma disposição pra coisa. Entrei para o ensino médio no Colégio Pedro Segundo em Realengo, e a atividade escolhida para complementar meu dia foi aula de música. 

O ingresso para escola de música Villa Lobos no centro do Rio foi uma transformação nos meus horizontes. Fiquei 3 anos na escola e me vi inserido num outro contexto da minha vida. Novos amigos, gostos, idéias... Um professor mestre Marcos Teixeira que me rasgava elogios mágicos enquanto me fazia entender que eu precisava exercer a profissão música. Participei de festivais, cantei em bares, compus para amigos cantores e as coisas fluíram naturalmente 

2- Você tem composições lindas.  Fale um pouco do seu lado compositor.

 Acho que tenho um lado poeta que me acompanhou desde os tempos de escola. Meus trabalhos escolares sempre tiveram um tom criativo, ora com poesia, ora com música.
Fiz uma primeira canção na sexta série. Tinha toda uma coisa romântica idealizada sofredora exagerada inocente, acho que daria um bom pagode hoje. Chama-se “Meus sonhos e fantasias”. Cantei numa confraternização de fim do ano, inusitadamente numa aula de matemática.
 A composição e o amadurecimento aconteceu com a Escola Villa Lobos. Nos recitais de conclusão de curso comecei a cantar músicas autorais. Meu grande incentivador e mestre foi Marcos Teixeira, com um tino pra arte e sabedoria que me motivava. Apontava minhas fragilidades e exaltava minhas qualidades.

Ganhe o primeiro lugar de melhor composição num festival da Petrobras realizado no Teatro Rival, com uma canção que digo “a música me consome mais do que o maior amor do mundo”.
E assim que se deu... Peguei gosto pela coisa, e aí fui compondo e compondo... Fiz muitas canções e deixei de fazer muitas. Penso que algumas ruins, outras boas, e outras que podem ficar boas.
Por não “saber tocar um instrumento” – parafraseando Caetano – eu usei da voz de todas as formas. Meu banheiro, meu estúdio (rs). Toda vez que vinha uma inspiração eu procurava a acústica dos azulejos.

Hoje, as composições aparecem como vagalumes num breu. Depende do tempo, espaço e vontade. 

3- Variável Eloquente. É seu CD de estréia?  Como foi o processo ?

Difícil, complexo e lindo.
No fim de 2012, meu amigo e produtor musical Clemente Magalhães, me contou sobre uma idéia para o meu primeiro disco. Um disco acústico, explorando as canções. Exaltando a poesia e a voz. A “banda” seria um violão e um quarteto de cordas.
Fiz todo um trabalho de harmonização das músicas com o grande e lindo Claudio Bezz, onde encontrávamos juntos a melhor forma pra música. Terças e quintas no estúdio corredor 5, e o disco estava ficando lindo. Aí veio a mágica das cordas com Maycon Ananias. Grande maestro e arranjador. Me mostrou despretensiosamente o arranjo da primeira música, Maldade do meu bem. Tive espasmos e arrepios na hora. Toda a felicidade, amor e dedicação eu dispus para o disco.

O dia da gravação das cordas com o quarteto de cordas de Aramis Rocha foi um parto. Todos os envolvidos atentos na realização do disco. Não existiria esse disco sem Rebeca Brack, Ana Campos e Duda Brack. Presentes durante todo processo. De felicidade, extasy, crise e todas as sensações que um primeiro disco tem que ter. A mixagem de Renato Alsher foi outro momento emocionante; a contribuição de um gênio dos efeitos, dosando moderno e clássico, que é o paradoxo do disco. 

4- Em seu CD , a maioria das canções são só suas, mas você tem uma parceria com Tais f
Feijão.  Fale um pouco sobre ela.

São duas parcerias na verdade :D
Feijão me acompanha desde os tempos do Villa Lobos. Temos muita fluidez quando tocamos juntos.
“Sem um dia”, eu escrevi a letra em casa, li em alguns saraus no Corujão da Poesia. Eu morava com a Feijão em Botafogo na época. E os bares no final da Voluntários da Pátria eram vizinhos. Num dias desses fomos beber com o violão embaixo do braço. Rolou um compasso em 6 no swing peculiar da Feijones. E a primeira letra que me veio foi “Se um dia”... A melodia aconteceu ali às 3 da manhã.
A outra é Variável Eloquente. Um processo parecido; fiz uma letra em casa, agora morava com Diego Moraes. Daniel estava lá em casa também. Estávamos num amanhecer chuvoso virando pela madrugada. Fiquei sentado em frente ao janelão de vidro da sala; fechada com muita chuva batendo. Tomei um papel e caneta enquanto os meninos ouviam música e repetiam o play do videoclipe do Gem Club -88. Escrevi a letra. Diego ainda tem o rascunho no seu caderno.
Depois de um tempo fui à casa de Feijones ensaiar umas músicas para um show. E lá começou a nascer a música. Acho que seja uma das minhas música mais complexas pois deu certo trabalho na composição. Eu e Feijão ficamos horas atrás da melodia. Até que chegamos enlouquecidos na casa de Duda Brack, afoitos com a nova música. Lá terminamos!

5- Há planos de lançar o CD físico?  Datas ?

Sim. O CD físico também sofreu com o processo (rs), mas está a caminho. Em Março teremos. E provavelmente Março/Abril  haverá um show de lançamento.

6- Não Recomendados. Você, Daniel Chaudon e Diego Moraes.  Como surgiu essa triceria?

Vivemos juntos, os três, durante dois anos. Foram  intensos,  numa época que havia saraus de segunda a domingo no Rio de Janeiro. A cultura parecia bem aquecida e íamos atrás, da Lapa ao Leblon. Começamos a cantar Não Recomendado em três vozes e as pessoas piravam na música. 
Muitos momentos emocionantes em que o coro “Uma foto” e “Não recomendado à sociedade” foram entoados de maneira visceral e sentida. Parecia iminente a montagem de um show nosso, e se deu... Marcamos, sem muita pretensão, algumas datas em São Paulo no início de 2014. Foi um laboratório incrível viver os primeiros shows no interior de SP.

7- Fale um pouco sobre o Projeto no Partio.

O Partio é uma plataforma de financiamento coletivo em que o artista pede apoio ao seu projeto e disponibiliza várias contra partidas de acordo com o valor de apoio. Tem dado muito certo para artistas independentes em busca de viabilizar sua arte.
Nosso projeto está lá. Para o desbunde coletivo na criação de todos e para todos.
Nesse show que tem sido um grito de amor, sinceridade e Música Popular Brasileira, ligada no volume máximo.Somos #NãoRecomendados para todos os caretas burrocráticos de plantão. E 
estamos atentos e abertos às manifestações de liberdade.
link: https://partio.com.br/projeto/nao-recomendados/


8- De vez em quando surge o assunto de que a MPB não tem renovação que os ídolos são os mesmos e coisas do gênero.  Eu discordo totalmente disso e artistas como você e outros de sua geração são o melhor exemplo de que a MPB está cada dia mais saudável.  O que vc acha disso?

Acho que a música popular brasileira que exalta a canção e poesia de novos compositores esteja num péssimo contexto comercial. As gravadoras e rádios buscam coisas padronizadas.
 A cena independente é a que resiste. Tendo como sua principal ferramenta a internet.
Vemos artistas com personalidade lutando com e pela sua arte. Acho a mercantilização da arte algo paradoxal, mas é ela que atinge a cultura de um povo. Portanto é dever do governo dar mais possibilidades à cultura brasileira, incluindo a música.

9- Quais os planos para 2015?

Nada muito planejado. 2015 vem acontecendo lindo! O disco foi incluído na lista dos 100 melhores disco de MPB pelo site Embrulhador por Ed Felix. Teremos lançamento do CD físico em Março/Abril e aparecem cada vez solicitações de show e reconhecimento de “Variável Eloquente”. Tenho me sentido deveras feliz pelas suas reverberações.
Além disso tem o projeto show #NãoRecomendados, que vai movimentar bastante o ano.
 

10- Você tem um site pessoal além da página do Facebook?  Como os fãs podem acompanhar sua carreira?

Tenho o site www.caioprado.com.br
Lá temos o disco, agenda, trabalhos...
E a página do facebook tô sempre movimentando:
https://www.facebook.com/ocaioprado

O CD "Variável Eloquente", de Caio Prado pode (e deve) ser baixado no site:

http://www.amusicoteca.com.br
A Musicoteca


Um comentário:

Juliana Britto disse...

Comecei a pesquisar/conhecer o trabalho do Caio Prado no ano passado e a cada vídeo, a cada entrevista... Me apaixono com ele...Desabafo junto com ele...Sofro com ele... Me encanto ainda mais com seu talento nas composições, na sua voz... Este rapaz irá longe!!! Sucesso!!!! Adorei te "conhecer" um pouco mais! Parabéns!!!!