Robertinho de Recife fotografado por Klaudia Alvarez durante show no Teatro Ipanema, RJ em 06/08/83
OBS: Foto do grupo "Os Ermitões" reproduzida do livro de José Teles. O crédito é do acervo de Ana Cristina, irmã de Robertinho.
Trechos do livro “ Do Frevo ao Manguebeat” do jornalista e escritor pernambucano José Teles – Ed. 34, São Paulo, 2000, págs. 135 a 144.
“Roberto Cavalcanti Albuquerque sempre foi chamado pelos colegas de Robertinho (em casa é Beto ou Bobio). Com seu tipo físico não poderia ser diferente. Ele sempre foi franzino, de olhos vivos e rosto pequeno. As mãos de dedos muito curtos não permitiam prever o futuro de um dos melhores guitarristas do Brasil.
Filho de um funcionário público federal bem situado (foi até auditor do Tesouro Estadual de Pernambuco) , que chegou na juventude a participar de encenações da Paixão de Cristo, e de uma mulher que quando solteira ensaiou a carreira de cantora, abandonada depois do casamento, seria por conta de uma pequena tragédia que Robertinho começaria a se interessar mais pela música. Ele estava com dez anos quando foi atropelado enquanto atravessava a Estrada de Belém, movimentada avenida no bairro de Campo Grande, no Recife, onde sua família morava.
Um acidente grave. Teve o fêmur fraturado e várias escoriações pelo corpo. Passou nove meses com platina na coxa. Durante esse período de imobilidade via muita TV. Num documentário da BBC (que passava na TV Jornal do Commércio), ele viu pela primeira vez os Beatles, de outra vez os Rolling Stones (suprasumo do rock da época). Mais do que nas canções dos dois supergrupos, ele diz ter ficado vidrado nos modelos de guitarras que John Lennon e Brian Jones usavam, respectivamente: uma Rickenbacker e uma Vox.
Guitarras eram então instrumentos raros no Nordeste. Chamavam-na até de “manola”, que é um instrumento rusticamente eletrificado, com um captador de violão, tocado por cantadores de feira para alcançar mais ouvintes. Robertinho ganhou seu primeiro violão. Mas continuou insistindo com o pai para que ele lhe comprasse uma guitarra. Não foi fácil achar uma disponível. A guitarra foi enfim encontrada, com um cara com quem Robertinho iria conviver muito num futuro não tão distante. Ele se chamava Maristone e era dono do melhor sistema de som da cidade (nos anos 60 e 70, Maristone colocou som em praticamente todos os shows importantes acontecidos no estado) . O avô de Robertinho comprou uma guitarra usada de Maristone.
“Eu não sabia tocar nada, peguei aquele negócio como um brinquedo para mim...mas eu era totalmente tapado: cantava fora do tom e batia palma em “Parabéns pra você”fora do ritmo. Eu era doido pra aprender aquela frase de introdução de “Quero que vá tudo pro inferno”. Pelo menos aquela frase da introdução, mas meus amigos chegavam e diziam: “Bicho, tu não dá pra tocar, tu é muito ruim, tu não sabe tempo, tu não é afinado pra tocar”. Eu tinha uma mão muito pequena, os dedos muito pequenos, não conseguia fazer a pestana da guitarra.”
Envergonhado, o garoto deixou um pouco a guitarra de lado. As cordas foram quebrando, até só restar uma. Robertinho recomeçou a tocar numa corda só.
Até os onze anos por mais que insistisse ele não progredia no instrumento. Desiludido, chegou a pedir ao avô que vendesse a guitarra.
Foi sua mãe quem o fez criar autoconfiança como músico, cantado-lhe canções, apontando-lhe notas erradas: “Eu fui aprendendo tudo de ouvido e isso foi muito bom pra mim. Se hoje você canta uma melodia pra mim, eu sei qual é a nota.” Logo, ele integraria seu primeiro conjuntinho, Os Príncipes. Em seguida, com doze anos, já montaria sua própria banda, Os Ermitões, ao mesmo tempo em que fazia participações nos Éforos.
Com quinze anos, Robertinho já era um guitarrista que segurava a onda. Nada como a escola de grupinhos de baile para ajudar a pegar tarimba. Foi por essa época que o Rosa da Fonseca, um navio de passageiros, parou no porto do Recife, precisando de um guitarrista. Foram até a TV Jornal do Commércio, onde os principais conjuntos da cidade se apresentavam. Robertinho seria o indicado. Na sua primeira aventura longe do conforto da casa paterna, viajou como músico, de Manaus até o Rio de Janeiro. Do Rio arriscou-se a ir até São Paulo, onde vivia um tio seu, músico que tocava numa boate que pertencia ao pai de Lanny Gordin, guitarrista que ficaria conhecido por tocar com os baianos. Depois dessa temporada no Sudeste, voltou ao Recife.
Por essa época, começava a se formar o movimento dos desbundados. Robertinho tocava nos Bambinos, considerado um dos melhores conjuntos da cidade. Foram os Bambinos que animaram muitas das festas dadas pelos tropicalistas. Era uma oportunidade rara incursionar por outros tipos de músicas, que não os sucessos internacionais dos bailes: “ A gente ia na casa de Lula Côrtes, fazia umas jam sessions, tocava com o Laboratório de Sons Estranhos, mas não compunha: tocava Mutantes, Beatles, coisas como “Dear Prudence”.
Dos Bambinos, Robertinho passou para Os Moderatos, outro conjunto do iê iê iê recifense, que até teve seu próprio programa na TV Jornal do Commércio, o Moderatos em Show Maior.
“Roberto Cavalcanti Albuquerque sempre foi chamado pelos colegas de Robertinho (em casa é Beto ou Bobio). Com seu tipo físico não poderia ser diferente. Ele sempre foi franzino, de olhos vivos e rosto pequeno. As mãos de dedos muito curtos não permitiam prever o futuro de um dos melhores guitarristas do Brasil.
Filho de um funcionário público federal bem situado (foi até auditor do Tesouro Estadual de Pernambuco) , que chegou na juventude a participar de encenações da Paixão de Cristo, e de uma mulher que quando solteira ensaiou a carreira de cantora, abandonada depois do casamento, seria por conta de uma pequena tragédia que Robertinho começaria a se interessar mais pela música. Ele estava com dez anos quando foi atropelado enquanto atravessava a Estrada de Belém, movimentada avenida no bairro de Campo Grande, no Recife, onde sua família morava.
Um acidente grave. Teve o fêmur fraturado e várias escoriações pelo corpo. Passou nove meses com platina na coxa. Durante esse período de imobilidade via muita TV. Num documentário da BBC (que passava na TV Jornal do Commércio), ele viu pela primeira vez os Beatles, de outra vez os Rolling Stones (suprasumo do rock da época). Mais do que nas canções dos dois supergrupos, ele diz ter ficado vidrado nos modelos de guitarras que John Lennon e Brian Jones usavam, respectivamente: uma Rickenbacker e uma Vox.
Guitarras eram então instrumentos raros no Nordeste. Chamavam-na até de “manola”, que é um instrumento rusticamente eletrificado, com um captador de violão, tocado por cantadores de feira para alcançar mais ouvintes. Robertinho ganhou seu primeiro violão. Mas continuou insistindo com o pai para que ele lhe comprasse uma guitarra. Não foi fácil achar uma disponível. A guitarra foi enfim encontrada, com um cara com quem Robertinho iria conviver muito num futuro não tão distante. Ele se chamava Maristone e era dono do melhor sistema de som da cidade (nos anos 60 e 70, Maristone colocou som em praticamente todos os shows importantes acontecidos no estado) . O avô de Robertinho comprou uma guitarra usada de Maristone.
“Eu não sabia tocar nada, peguei aquele negócio como um brinquedo para mim...mas eu era totalmente tapado: cantava fora do tom e batia palma em “Parabéns pra você”fora do ritmo. Eu era doido pra aprender aquela frase de introdução de “Quero que vá tudo pro inferno”. Pelo menos aquela frase da introdução, mas meus amigos chegavam e diziam: “Bicho, tu não dá pra tocar, tu é muito ruim, tu não sabe tempo, tu não é afinado pra tocar”. Eu tinha uma mão muito pequena, os dedos muito pequenos, não conseguia fazer a pestana da guitarra.”
Envergonhado, o garoto deixou um pouco a guitarra de lado. As cordas foram quebrando, até só restar uma. Robertinho recomeçou a tocar numa corda só.
Até os onze anos por mais que insistisse ele não progredia no instrumento. Desiludido, chegou a pedir ao avô que vendesse a guitarra.
Foi sua mãe quem o fez criar autoconfiança como músico, cantado-lhe canções, apontando-lhe notas erradas: “Eu fui aprendendo tudo de ouvido e isso foi muito bom pra mim. Se hoje você canta uma melodia pra mim, eu sei qual é a nota.” Logo, ele integraria seu primeiro conjuntinho, Os Príncipes. Em seguida, com doze anos, já montaria sua própria banda, Os Ermitões, ao mesmo tempo em que fazia participações nos Éforos.
Com quinze anos, Robertinho já era um guitarrista que segurava a onda. Nada como a escola de grupinhos de baile para ajudar a pegar tarimba. Foi por essa época que o Rosa da Fonseca, um navio de passageiros, parou no porto do Recife, precisando de um guitarrista. Foram até a TV Jornal do Commércio, onde os principais conjuntos da cidade se apresentavam. Robertinho seria o indicado. Na sua primeira aventura longe do conforto da casa paterna, viajou como músico, de Manaus até o Rio de Janeiro. Do Rio arriscou-se a ir até São Paulo, onde vivia um tio seu, músico que tocava numa boate que pertencia ao pai de Lanny Gordin, guitarrista que ficaria conhecido por tocar com os baianos. Depois dessa temporada no Sudeste, voltou ao Recife.
Por essa época, começava a se formar o movimento dos desbundados. Robertinho tocava nos Bambinos, considerado um dos melhores conjuntos da cidade. Foram os Bambinos que animaram muitas das festas dadas pelos tropicalistas. Era uma oportunidade rara incursionar por outros tipos de músicas, que não os sucessos internacionais dos bailes: “ A gente ia na casa de Lula Côrtes, fazia umas jam sessions, tocava com o Laboratório de Sons Estranhos, mas não compunha: tocava Mutantes, Beatles, coisas como “Dear Prudence”.
Dos Bambinos, Robertinho passou para Os Moderatos, outro conjunto do iê iê iê recifense, que até teve seu próprio programa na TV Jornal do Commércio, o Moderatos em Show Maior.
OBS: Foto do grupo "Os Ermitões" reproduzida do livro de José Teles. O crédito é do acervo de Ana Cristina, irmã de Robertinho.
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