TRANSCRIÇÃO COMPLETA DA PARTICIPAÇÃO DE FILIPE CATTO NO
PROGRAMA ZOOMBIDO – PAULINHO MOSKA – CANAL BRASIL – EXIBIDO EM 08/08/13
“ Eu não consigo imaginar a minha casa sem música. Eu acho
que isso é a grande loucura que deu origem a tudo, porque o meu pai é músico,
então a lembrança que eu tenho da infância, era de ver o meu pai tocando piano e
eu, meio que do lado, assim, tipo tentando alcançar as teclas e tocando junto e
participando daquilo.
Eu sempre ouvi muito o que o meu pai ouvia. Tinha aqueles discos do Milton. Eu lembro que
tinha aquele disco do Dire Straits, aquele que é uma capa azul, lindo, sabe?
Eu
lembro dos discos da Elis, eu lembro dos discos da Janis Joplin. Eu lembro
dessa coisa do rock dos anos 70 que meu pai gostava muito. Então, The Doors, os
Rolling Stones (que estão aqui na camiseta...rs rs). Eu lembro também das músicas que tocavam no rádio da empregada, eu lembro de coisas de música sertaneja, de Zezé di Camargo e Luciano, eu lembro de Leandro e Leonardo, eu lembro da Xuxa, eu lembro do Roberto Carlos, da Marisa.
Então era tudo o que tocava na novela, ao mesmo tempo aquela
coisa que o meu pai ouvia, que era uma outra estória, que vinha também da
experiência dele como músico, na época. Então era uma coisa muito plural e
muito viva, assim, dentro da minha criação.
Eu não consigo me lembrar de não estar ligado à música. Não consigo
lembrar de uma outra possibilidade de vida que não a de músico. Eu acho que já saí da minha mãe já sabendo
que eu era músico. Eu nasci com
isso. Eu me lembro de entrar em uma aula
de musicalização. Eu lembro que eu tinha
de anotar as notinhas em um caderninho.
Eu era muito criança, mas não lembro
que idade eu tinha. E isso era a
relação com o teclado. Eu tinha um
violãozinho pequenino, aquele de criança e tal.
Na verdade, quem é mais dos instrumentos é meu irmão. Ele é o cara que ficava tocando tudo e que
gostava dessas coisas. Eu lembro de
cantar. E é uma coisa muito pretenciosa
que eu vou dizer, mas eu lembro quando era criança que eu sabia que eu cantava
muito bem. Eu não sei porque eu tinha
essa ideia. Eu sabia que eu cantava bem prá
caramba. Gostava de cantar um monte de coisa em casa e durante toda a minha
infância e a partir de uns 5 anos de idade eu bloqueei isso completamente na
minha vida. Eu dei uma rejeitada na
música, eu acho. Até mesmo a coisa da
relação familiar, tipo, será que eu preciso seguir os caminhos da minha família
e tudo mais. Mas eu lembro que isso era
uma coisa que eu sabia que fazia muito bem e que gostava muito de fazer. Era muito a fim de fazer, mas naquele momento
eu queria explorar outras coisas. Eu
desenhava prá caramba. Aí comecei a ler
muito, escrever muito e essa coisa do cantar, da minha relação com a música, só
foi despertar quando eu tinha uns 10 anos de idade.
-Toca “ A sós”
Eu cheguei para o meu pai e falei assim: agora eu quero
começar a cantar com você. Ele fazia
muito evento, ele tocava em casamento, em formatura, fazia isso, fazia aquilo,
no Nacional...e eu comecei a acompanhar meu pai. Então eu comecei mesmo a pisar no palco, a me
apresentar na frente das pessoas quando
eu era uma criança. Comecei a aprender
dali. Comecei a aprender música,
aprender a cantar na frente do público já. Comecei a ler muito e fiquei muito a
fim de escrever. Então eu queria
escrever. Escrevia historinhas,
desenhava, escrevia livrinhos e ficava ilustrando e fazendo a capa. Pegava uma folha ofício, dobrava, fazia uma
edição, desenhava a capa, desenhava a historinha. Aí depois comecei a ver, colocar isso dentro
da música. Ver que eu ia me expressar
melhor através da música. Então eu lembro
de começar a compor as minhas primeiras músicas com uns 12 anos de idade
e era uma coisa muito louca porque eu tinha uma necessidade de cantar alguma
coisa que dissesse algo da minha identidade.
Então acho que a coisa da voz e da composição, prá mim, isso sempre
esteve associado à coisa da identidade mesmo.
Qual é o meu papel no mundo, como vou expressar isso e isso era uma
coisa muito assustadora de pensar que era uma coisa muito embrionária. Sempre fui muito embrionário. Eu acho até que por essa coisa de viver em
uma família italiana e todo mundo mora na mesma rua e todo mundo tá o tempo
todo junto e viver em uma casa onde eu divida quarto e tinha toda essa coisa e
tudo mais...Eu sempre busquei muito minha afirmação enquanto indivíduo dentro
desse conjunto e sempre fui a ovelha negra.
Então a coisa da música, do escrever música, vinha muito como um
discurso também de libertação e uma maneira minha de me colocar no mundo de uma
forma diferente.
Acho que compor, para mim, ainda é uma...um exercício do
sagrado muito delicado. A maioria das
músicas que eu compus, assim, foram muito...de um...do nada, assim. Era uma coisa que eu tava fazendo qualquer
outra coisa, ou andando e de repente me surgiu uma fagulhazinha assim. Eu acho também que tem essa coisa de pegar
alguma coisa no ar, que a gente não sabe o que é. E com sorte poder desenvolver com tempo,
né? Eu já fui muito mais visceral na coisa de compor, de pegar, sentar
e escrever a música na hora e tem acontecido cada vez menos, não sei
porque. Mas a composição, ela é uma
nuvem que passa e às vezes a gente nem consegue pegar ela direito, entendeu
? Melhor coisa é sempre ter uma coisinha
para anotar porque vem as ideias e aquilo pode se transformar em alguma
coisa. Eu sinto que sempre tem aquele
momento da fagulha mesmo. Sempre tem o
momento que , do nada, a gente começa a cantar alguma coisa ou aparece alguma
coisa interessante que a gente nem sabe se está cantando algo que ouviu ou
fazendo, sei lá, se repetindo. É muito
louco isso. Mas a composição, para mim,
ainda é muito misteriosa. Eu não sei absolutamente
nada de como ela surge e absolutamente nada do que acontece com ela a partir
daquilo.
-Toca “ Saga”
Eu comecei compondo no violão e depois comecei a compor sem
violão. Abrir mesmo os canais e começar
a cantar uma melodia que daqui a pouco vira um lá, lá, lá, lá e isso daqui a
pouco já vira, sei lá, uma letra. A
sonoridade puxa uma letra, aquela letra acontece sozinha e vira melodia de
novo, então tem um processo muito...que é caótico. Não existe nenhuma fórmula. A coisa violão, uso mais o violão depois,
quando já tenho a estrutura melódica dela.
Eu pego o violão só para encaixar, né?
Botar os acordes para eu passar isso pros músicos. A gente visualiza mais a canção com o violão
na mão. Se eu estou em um momento em que
estou construindo ou montando repertório, eu tendo a ser mais visceral com a
composição. Então eu componho, já passo
para a banda, a gente já ensaia. Eu só
consigo dar ponto final em uma composição a hora em que eu escuto ela tocada,
já com algum tipo de arranjo. Aí eu consigo
saber se a música está pronta ou não. Se
preciso cortar alguma parte, se preciso acrescentar alguma parte, porque antes
disso, até a hora mesmo de apresentar
ela para o público, ela nunca está pronta.
Eu gosto muito de botar música nova dentro do repertório de show e ir
botando ela, ir experimentando, ir trabalhando tranquilamente com a música, sem
ter esse compromisso do ineditismo, assim.
E tem músicas que eu já gravei, já toquei há muito tempo atrás, que eu
rebobinei agora, refiz a letra inteira e virou outra coisa.
Moska: “ A música está viva!”
Está sempre viva! Eu acho que a grande graça disso é a gente
poder...eu acho que enquanto a gente tiver pulmão para cantar ao vivo, a gente
pode estar sempre mudando alguma coisa ou outra.
A canção ? Ela diz muito do nosso momento. Do momento presente mesmo. Então ela tem que fazer todo o sentido. Eu sinto que eu sou um prisma. Eu sinto que existe uma coisa que passa por
mim e vai... e que volta, e que é um movimento meio do infinito. Aquela coisa do oito, né? Quando eu estou em cima do palco, estou de
frente para o público e cantando, eu sinto que aquilo não sou eu mais e que a
música, ela existe sozinha e que a única função que eu tenho ali é poder viver
aquele momento mais concentradamente.
Mas concentrado não no sentido técnico.
Concentrado no sentido da interpretação mesmo. De mergulhar muito fundo na letra. De pensar cada momento, viver aquela música,
cada segundo e poder receber o que a música e o público podem te dar. Poder aprender com a música. Cantar é compor também. E as músicas, elas vão ganhando um
significado, vão distorcendo e resignificando e sensualizando e acontecendo de
acordo com o presente, porque por mais que seja uma música consagrada, e uma
música maravilhosa e grandiosa, é uma delícia ter essa possibilidade de mudar
junto com a música. De deixar a música
passar honestamente, sem ser uma coisa mecânica, de ir lá, vou ter que cantar
essa música. Agora canta a música. Quando eu estou cantando, eu não posso
desperdiçar um segundo daquilo. É um
momento de vida ou morte. É o kamikaze complexo, assim. Completo e complexo. Não existe nada melhor do que aquilo.
Eu acho que música é
partilha, eu acho que música é comunicação, eu acho que música é doação e
aprendizado. Eu gosto muito de pensar na
música como um veículo de entrar em contato com o coração das pessoas, de
verdade, acima de qualquer coisa. Fazer
música faz com que eu seja mais humilde, seja mais respeitoso com o mundo, respeitoso
com as pessoas que escutam. Poder ver
isso é muito legal. Pra gente poder ser
o que a gente é de maneira plena, né?
“Adoração” - Para mim
ela foi uma composição muito surpreendente, assim...Porque ela nasceu de uma
melodia cantarolada, um lá, lá, lá...e
aquilo podia ter qualquer fórmula e fui cantando ela no banho, fui
escrevendo a letra, foi acontecendo. Ela
meio que aconteceu de uma vez só. E depois eu fui lapidando ela, fui dando
aqueles toquezinhos e tal. Mas eu acho
que ela é uma grande ruptura na minha vida, porque ela me abriu um caminho de
resgate de uma coisa que eu não estava usando mais. Quando eu comecei a cantar, assumindo mesmo
uma estória autoral, de cantar as minhas músicas, eu era “ front man” de uma
banda. Eu tocava guitarra e cantava,
então a minha raiz vem muito do rock. Eu
sou um fruto, inclusive, do tipo de canção que você faz, do tipo de canção que
a Cássia interpretava. A geração 90
ali. Aquela coisa que...o tipo de som
que rolava no Brasil. Era o que eu
fazia, e que é, de certa forma. Não tem
o purismo da canção tradicional ou que tenha raiz na bossa nova ou no samba, ou
qualquer outra coisa que tenha aquela coisa da melodia mega complexa e letra
mega erudita, e tudo mais. E “Adoração”,
prá mim, ela serviu como a possibilidade de eu falar assim: eu posso cantar uma
música que seja pop, que seja alegre, que seja amorosa e extremamente visceral
na luz dela. Na coisa de cantar assim, ó
(abre os braços), de poder tipo, abraçar tudo que está ali em cima e isso , prá
mim, foi muito importante porque até então eu vinha de um caminho muito
ligado ao samba canção, muito ligado à coisa mais obscura da música
e
“Adoração” foi um grito de luz do sol
prá minha composição. Toda a força que
eu tive que forjar, no lodo emocional,
eu posso trazer ela para um lugar de luminosidade e, a partir de “ Adoração”, a
minha composição não foi mais a mesma.
Moska: “Vamos cantá-la ?”
Filipe: Vamos!
Moska: “Obrigado!”
Filipe: Imagina!
Moska: “Maravilha”.
-Dueto Moska e Filipe – “Adoração”
Moska: “ Princípe!” Obrigado, Filipe!
Filipe: Obrigadão”.
3 comentários:
Klaudia, que coisa linda, que carinho voce teve de buscar palavra por palavra do que o Filipe disse e treazer pra sua página ! Fico muito honrado de te conhecer e muito admirador aqui do seu blog e só não vim aqui antes de dizer que adorei isso por conta da avalanche de shows e acontecimentos com o Divo. Mas, adorei reler td que o Filipe falou, aliás, essa entrevista teve um astral maravilhoso e uma sintonia musical com o Moska, brilhante! bjsss
Obrigada, Toninho, por suas palavras. Posso dizer que só me deu prazer e alegria fazer isso. Todo registro que puder ser feito, para contribuir de alguma forma na divulgação da carreira desse grande artista e meu novo ídolo, eu farei. Bj e obrigada por sua amizade e carinho!
Que trabalho perfeito, Klaudia querida; é como ver o Filipe conversar na nossa frente! Tou virando sua fã, jornalista nata! Felicidades!
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