sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Zeca Baleiro

Ele despontou na cena musical brasileira a partir de 1997 , quase ao mesmo tempo em que o parceiro, contemporâneo e também nordestino, Chico César estourava nas paradas de sucesso com “Mama África” e “A primeira Vista”. Imediatamente seu talento como compositor chamou a atenção de Gal Costa, que em julho do mesmo ano o convidou para participar do seu CD Acústico, cantando Vapor Barato e Flor da Pele. Logo em seguida muito já se falava de Zeca Baleiro e da criatividade e ousadia de seu primeiro trabalho -“Por onde andará Stephen Fry” - um CD que já mostra a que veio o compositor e cantor maranhense. Seu primeiro registro solo revela o grande compositor que é, com baladas que se tornariam antológicas como “Bandeira”, “Flor da Pele”, “Skap”, mas também mostrando o seu lado irônico – uma característica de sua personalidade- presente em várias músicas como “O Parque de Juraci” , “Kid Vinil” e “Dodói”.
Outro destaque interessante do Cd é a participação de artistas que aparentemente não tem muito a ver um com o outro como Wanderléa e Genival Lacerda, por exemplo, mas que mesclados na arte única de Baleiro, tem tudo a ver.

Em 1999, no trabalho seguinte, ele resolveu Imbolâ e chegou pilotando a sua Sigfrida e com um visual um tanto over e tecnobrega, mas a qualidade e originalidade do trabalho não ficam nada a dever ao primeiro disco. Lá está Luiz Gonzaga –com a excelente “Pagode Russo”, misturado com Zeca Pagodinho – na impagável “Samba do Approach - e a sempre boa lembrança de Sérgio Sampaio com “Tem que acontecer”. As baladas com a assinatura incomparável de Baleiro estão de volta com “Lenha” e “”Meu amor meu bem me ame”. Também digna de nota é a versão dele para “Disritmia”, um clássico de Martinho da Vila.

Em seu terceiro disco, Baleiro mais uma vez surpreende e se despoja dos adereços, aparecendo com um visual quase clean e com um trabalho lírico e poético. Neste CD , de 2000, ele opta por mostrar apenas canções “Líricas” e registra sua parceria com a poeta Alice Ruiz em “Quase Nada”. O disco todo é excepcional e marca a consolidação da carreira de Zeca e registra sua segurança como intérprete. Outra característica importante nos trabalhos de Zeca é que ele sempre fala do Maranhão e das coisas de lá sem ser regionalista. Ele é universal e local, na dose certa.

Nos seus projetos seguintes, “Pet Shop Mundo Cão”e “Baladas do Asfalto e outros Blues”, Zeca Baleio continua a montar seu mosaico de canções, do pop ao funk, passando por músicas como “Filho da Veia” de Luiz Américo e Braguinha. Acima de tudo, Zeca é um cantor e compositor popular, como ele mesmo gosta de afirmar. Ele consegue trazer à tona canções que estão no inconsciente do povo brasileiro, mas que muitas vezes por preconceito ou outros motivos só são despertadas e viram sucesso quando alguém como ele as coloca na vitrine.

Outra característica que ressalta na carreira de Zeca é sua capacidade de aglutinação. Com a criação do projeto “Baile do Baleiro - uma série de shows em que ele apresentava nomes novos e já conhecidos e cantava com eles suas canções - ele conseguiu trazer à público nomes um tanto esquecidos e sem visibilidade na mídia mas que precisavam apenas de um empurrão de uma liderança como ele para que fossem aplaudidos (e re-descobertos) nos shows.

A criação do selo “Saravá Discos” é mais um gol de placa de Zeca Baleiro que consegue assim trazer para seu público mais jovem produtos de muita qualidade como o disco “Ode Descontínua para Flauta e Oboé” em que ele musicou poemas de Hilda Hilst ou ainda a remasterização de um disco importante e que só existia em vinil o “Cabelos de Sansão” do cearense Tiago Araripe, lançado nos anos 80. “Cruel”, outro grande lançamento da Saravá Discos traz à tona as canções do incrível Sérgio Sampaio, um compositor que inspirou Zeca e que deve ser sempre lembrado, pois seu trabalho é mais atual do que nunca.

É impossível não mencionar também outro projeto importante e fundamental que foi o disco e o DVD que ele fez em dupla com Raimundo Fagner . Uma parceria vitoriosa e costurada a quatro mãos (Zeca, Fagner, Sérgio Natureza e Fausto Nilo) que trouxe novo gás à Fagner, na época um tanto desanimado com os rumos de sua carreira , e que trouxe benefícios aos dois artistas. Muitos jovens que não conheciam Fagner passaram a conhecer seu trabalho e mais tarde freqüentar seus shows, como também foi dessa forma que muitos fãs do cantor cearense foram conquistados pelo talento do jovem artista maranhense.

Sempre atento e antenado, Zeca Baleiro também não deixou passar despercebidas as participações que faz em discos de outros artistas e decidiu lançar o CD “Lado Z” em que registra as músicas que divide com outros artistas em seus discos.

Com o novo trabalho “O coração do homem bomba Vol 1”, Baleiro se mostra mais do que nunca como um artista de seu tempo, maduro e em perfeita sintonia com seu público. Ele sabe exatamente o que quer de sua carreira e não se deixa abalar pelos brilhos do sucesso. Só nós resta aguardar as novas guloseimas que virão , pois criatividade, talento e carisma o maranhense tem de sobra.
Crédito das fotos:
1- Close-P&B - Everton Ballardin
2-Fagner e Zeca - Klaudia Alvarez
3- Zeca -brinde - Juliana Britto

2 comentários:

Juliana Britto disse...

Nossa, amei a reportagem e você conseguiu definir, falar um pouco da estória, repertório.... parabéns... bjs amiga

Juliana Sobral disse...

Klaudia, que alegria ler essa matéria! Parabéns pelo blog e também pela forma leve como escreve...Pode apostar que estarei sempre aqui! Grande Beijo!