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1973 - O Livro


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Organizado por Célio Albuquerque, obra tem participação de niteroienses. Ele levou em consideração identificação que cada um dos autores tinha, sobre o disco que escreveriam

por: Cláudia Felício, n'O Fluminense

O cenário musical era o começo dos anos 70. O grande desafio: fazer algo novo numa era pós-Festival da Canção e da Música Popular Brasileira. Entre 1965 e 1972, o Brasil pôde experimentar vários estilos de música, com intérpretes de todos os gêneros que participavam dos festivais. Vários, inclusive, apareceram definitivamente para o grande público a partir desses eventos, como Chico Buarque com A Banda, vencedora em 1966, junto com Disparada, na voz de Jair Rodrigues.

Os festivais provaram que a música nacional não estava mais restrita à Jovem Guarda ou ao Tropicalismo; eram inúmeros estilos que fervilhavam. Da grande vitrine de talentos que eram os festivais, a situação mudou. O Brasil via-se imerso em um regime militar que censurava e controlava severamente a produção cultural do País. A música produzida tinha que, claro, driblar a censura e expressar emoções e sentimentos. A MPB floresce e se reinventa e são essas reinvenções que o jornalista Célio Albuquerque mostra no seu livro 1973 – O ano que reinventou a MPB, lançado pela Sonora Editora, que conta com a colaboração de três jornalistas niteroienses: Luiz Antonio Mello, Renato Schott e Beto Feitosa.

Para fazer o livro, Célio Albuquerque, que é pesquisador e produtor musical, convidou alguns jornalistas para falar em de certos discos que o próprio autor escolhera. Ele levou em consideração a identificação que cada um dos autores tinha, de alguma forma, com o disco sobre o qual escreveriam.

“Haveria alguém mais adequado para falar do disco do Gonzaguinha do que Dacio Malta, que escreveu um musical sobre o artista? Quem mais conseguiria tratar com tanta sensibilidade o disco de Paulinho da Viola do que Moacyr Luz, que é sambista do mesmo naipe? Quem poderia escrever com mais propriedade sobre o disco do Terço do que Luiz Antonio Mello, profundo conhecedor do rock brasileiro e internacional?”, indaga o organizador da obra.

Luiz Antonio Mello é jornalista, radialista e escritor,  autor, entre outros livros de A onda maldita – como nasceu a Fluminense FM. Foi ele o escolhido para escrever sobre o álbum Amanhecer Total, do grupo O Terço.

“Esse disco é um clássico do rock brasileiro e ousa em vários aspectos. A faixa-título, por exemplo, com seus vários andamentos e sub-temas, arranjos diferenciados, segue a essência do rock progressivo. Por outro lado, no lado B, a banda parte para o hard rock e traz momentos fantásticos como Lagoa das Lontras e Deus. Um disco épico. Apesar de ter sido gravado em condições técnicas muito limitadas, o álbum superou as adversidades e chama a atenção pela ousadia. O álbum foi lançado no auge de grandes nomes mundiais do progressivo como o King Crimson, Yes, Emerson, Lake and Palmer, mas a faixa-título, Amanhecer Total, é bem brasileira e destaca a participação vocal de Patrícia do Valle.

Ricardo Schott escreveu sobre o segundo disco do Guilherme Lamounier, álbum homônimo, que tem as canções como Cabeça Feita e Amanhã Não Sei, que é, segundo o jornalista,  uma das baladas mais bonitas já gravadas na história da música pop brasileira Ele explica que procurou abordar assuntos novos sobre o tema buscando, inclusive, informações com pessoas próximas a Lamounier. O jornalista destaca chama atenção para o fato de que o disco teve algumas faixas censuradas.

“O Guilherme Lamounier é um disco apaixonante. Ele mistura o pop agridoce (à maneira de artistas como Carly Simon, Joni Mitchell e James Taylor) com soul e rock feito pelo próprio Guilherme. O álbum é um grande achado para quem curte aquela aura meio hippie da música “jovem” feita nos anos 70, de letras contemplativas, que eram consideradas absolutamente alienadas naquela época de politização extrema. Não obstante, o Lamounier é um dos maiores cantores que o Brasil já teve e se notabilizou também como compositor radiofônico. Ele fez músicas para Frenéticas, Fábio Jr. Roupa Nova, mas essa faceta ficou obscurecida. Há um certo fetiche no fato de o Guilherme ter tido bastante sucesso, mas ter desaparecido do mercado nos anos 80. Ele não grava nada desde 1986, não dá entrevistas nem se apresenta mais ao vivo.

A cargo do jornalista Beto Feitosa ficou a resenha Todos Os Olhos, de  Tom Zé.

“Considero-o um dos grandes gênios da música brasileira moderna. Ele carrega, ainda hoje, a essência do tropicalismo, fazendo uma música livre, criativa, juntando conceitos diferentes e criando algo totalmente particular. Enquanto seus colegas de movimento se estabeleceram com uma música mais palatável, Tom mergulhou em suas experiências. Com isso, viu seu público minguando, as gravadoras perderam o interesse, ele foi taxado como difícil. Um dia, por engano de um lojista brasileiro desavisado, um disco de Tom foi parar nas mãos de David Byrne, que enxergou o quanto ele era genial e levou sua música para os EUA. Depois disso, ele retomou, aos poucos, sua carreira no Brasil, que segue até hoje. O álbum Todos Os Olhos é ousado e diferente, porém ficou taxado como um disco difícil, mas não é. É extremamente bem humorado como é toda a obra dele.

O livro 1973 – O ano que reinventou a MPB reúne as considerações dos três autores niteroienses e de mais 47 profissionais, entre jornalistas, artistas e críticos, sobre 50 discos entre os mais expressivos daquele ano. A obra está na lista dos mais vendidos do País e é referência para quem quiser conhecer um pouco mais sobre um período ímpar da MPB. Imperdível para quem gosta de rock, samba, música romântica, música instrumental. Imperdível para quem gosta de música, ponto final.
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